segunda-feira, 5 de maio de 2014

A suplementação com antioxidantes pode comprometer as adaptações ao treino.

Nos Estados Unidos da América cerca de 50% dos atletas de elite, 40% dos atletas não elite e 25% dos atletas de recreação, utilizam suplementos antioxidantes diariamente. Existe a ideia generalizada de que qualquer actividade física necessita desuplementação antioxidante. O principal argumento para esta recomendação é que qualquer aumento na actividade física é proporcional ao aumento da produção de espécies reactivas de oxigénio (ERO) e consequente destruição celular, originando uma diminuição do rendimento desportivo.

A prática de exercício físico aumenta a produção de ERO 2-4 vezes comparativamente a indivíduos sedentários; esta alteração do estado redox causa o denominado stress oxidativo nos músculos e outros tecidos, lípidos, proteínas e material genético.
A mitocôndria é o principal local da célula onde se dá a produção das ERO; cerca de 85% do oxigénio é consumido por este organelo. Durante a produção de energia, são utilizadas grandes quantidades de oxigénio para a respiração mitocondrial, sendo aágua o metabolito final. Durante este processo, alguns eletrões formam o RadicalSuperóxido (O2.-), o grande precursor de vários outros radicais livres: Peróxido de Hidrogénio (H2O2), Radical Hidroxiacil (OH.), Radical Peroxil (ROO.), Radical Alcoxil (RO.), entre outros. Oradicais mais importantes, apresentados por ordem de reactividade no organismo: O2.-< ROO. < OH.. O radical O2.- tem uma baixa reactividade celular comparativamente ao OH.ou seja, o OH. causa muitos mais danos celulares.
Existem dois tipos de sistemas antioxidantes: endógenos e exógenos. O sistema endógeno é intrínseco ao organismoou seja, as próprias células estão equipadas com um sistema de defesa antioxidante enzimático e não enzimático (principal agente antioxidante intracelular). Ver: tabela 1.
Antioxidantes Endógenos
Sistema Enzimatico
Sistema não Enzimatico
Superoxido Dismutase
Catalase
Glutationa Peroxidase
Glutationa redutase
Glucose-6-fosfato desidrogenase
Tioredoxina redutase
Glutationa
Acido úrico
NADPH
Coenzima Q
Albumina
Bilirubina

Os antioxidantes exógenos derivam principalmente da dieta (frutas, vegetais e cereais).
Antioxidantes Exógenos
Fonte
Vitaminas C

Vitamina E

Micronutrientes: Zinco e Selenio

Carotenoides (percursores Vit. A)


Polifenois
Meloa, citrinos, maçãs, morangos, brócolos, tomate, couve flor, espinafres
Frutos secos, sementes, cereais

Mariscos, cereais fortificados, iogurte, carne, figado, ovo

Fígado, batata doce, cenoura, abobora, (fruta e legumes de cor verde e amarela)

Soja, frutos secos.

Após o exercício, as concentrações das espécies reativas de oxigénio estão aumentadas; subsequentemente, o sistema antioxidante é activado para eliminar os radicais livres que foram produzidos durante o exercício.
O aumento das ERO induz uma diminuição da capacidade funcional do músculo, alterações histológicas (celular) e dor muscular. Inicialmente pensava-se que esta alteração do estado de redox seria prejudicial para o processo de treino e que prevenir as suas acções seria benéfico. Todavia, novas investigações têm demonstrado que as suas acções são benéficas, desempenhando um papel importante na regulação e transcrição de genes, ou seja, parece que as adaptações ao treino são reguladas pelo estado redox. Os dois factores de transcrição associados a estas adaptações são o NF-KB (factor nuclear), que é responsável pela transcrição de genes do sistema imunitário e inflamatório, e o factor AP1 (proteína activadora), que regula os genes responsáveis pelo crescimento e diferenciação celular. Adicionalmente, o aumento da produção de ERO promove a activação das enzimas antioxidantes endógenas durante o treino.

A produção de ERO durante o exercício é necessária para dar início aos processos adaptativos. Estes processos incluem a regulação das enzimas antioxidantes, sistema dano-reparação celular, redução dos níveis basais de ERO e redução dos danos oxidativos durante o exercício. Assim, o aumento do estado redox é proporcional aos processos adaptativos do treino.
As mais recentes investigações sugerem que a utilização de suplementos antioxidantes (vitamina C e E) pode ser prejudicial, suprimindo as adaptações ao treino e, assim, diminuindo ou mesmo prejudicando o efeito do treino no processo da biogénese mitocondrial (produção de novas mitocôndrias) e subsequente diminuição da performance.
Todavia, grande número destes estudos foi realizado em indivíduos sedentários ou derecreaçãoEste facto pode limitar a interpretação dos resultados, uma vez que a maioria dos atletas de elite que fazem suplementação também apresenta maiores volumes e intensidades de treino que os utilizados nos estudos.
Com base nos estudos sobre o efeito de vitamina E e/ou C no desempenho da performance e o equilíbrio redox, um consumo permanente de altas dosagens destas vitaminas não deve ser recomendado (vitamina C>90mg/dia e vitamina E >15mg/dia).Esta recomendação não deve ser confundida com a alta ingestão de legumes e frutas, que são considerados seguros e benéficos.


1.Sathya A, Siddhuraju P. Role of phenolics as antioxidants, biomolecule protectors and as anti-diabetic factors--evaluation on bark and empty pods of Acacia auriculiformis. Asian Pacific journal of tropical medicine. 2012;5(10):757-65. Epub 2012/10/10.
2.Goto S, Naito H, Kaneko T, Chung HY, Radak Z. Hormetic effects of regular exercise in aging: correlation with oxidative stress. Applied physiology, nutrition, and metabolism = Physiologie appliquee, nutrition et metabolisme. 2007;32(5):948-53. Epub 2007/12/07.
3.Nikolaidis MG, Kerksick CM, Lamprecht M, McAnulty SR. Redox biology of exercise. Oxidative medicine and cellular longevity. 2012;2012:407978. Epub 2012/10/11.
4.Nikolaidis MG, Kerksick CM, Lamprecht M, McAnulty SR. Does vitamin C and E supplementation impair the favorable adaptations of regular exercise? Oxidative medicine and cellular longevity. 2012;2012:707941. Epub 2012/08/29.
5.Yfanti C, Akerstrom T, Nielsen S, Nielsen AR, Mounier R, Mortensen OH, et al. Antioxidant supplementation does not alter endurance training adaptation. Medicine and science in sports and exercise. 2010;42(7):1388-95. Epub 2009/12/19.

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